Era um belo domingo. A igreja evangélica brasileira estava lotada. Como sempre: uma grande expectativa. Canções antropocentricas, cujo centro é o homem mesmo (pra ser bem redundante...), eram cantadas... Palavras de cura, libertação, posse, determinio??, e prosperidade eram proferidas e liberadas... O que se ouvia da boca de alguns era que o avivamento estava presente na igreja. Sinais, maravilhas, curas, exorcismos, testemunhos mirabolantes de pessoas palpérrimas e que agora eram mega empresários. Tipo o carinha que era catador de papel, agora era o dono da fábrica de reciclagem...
Até que algo fenomenal aconteceu. Não se sabe de onde veio nem quando ao certo aconteceu... Mas o dirigente que pregava a mensagem e impetrava bençãos financeiras fora acometido por algo inexplicável... Ele começou a pregar diferente do que pregara até àquele dia... Sua prédica não continha mais palavras de determinação (ou determínio?!) e ordens a Deus. Sua fala não era mais de promessas triunfalistas, egocêntricas e vazias de sentido. Agora a tônica de sua pregação era algo um tanto quanto desconhecido daquela massa aglomerada ávida por coisas extraordinárias, palpáveis e materiais.
O pregador falava de um tal de Cristo e este crucificado. Que palavras eram aquelas?? O tal evangelho da cruz, que não exaltava o ser humano e não o colocava quase ou inteiramente (sei lá) numa posição de igualdade com Deus ou até mesmo acima dele. Antes, pelo contrário, esse evangelho, até então desconhecido, dizia que esse ser humano devia morrer e morrer crucificado com Cristo para que pudesse viver a verdadeira vida plena em Deus.
Que coisa esquisita era aquela, totalmente diferente do evangelho até então anunciado, o da prosperidade, o da exaltação, o da riqueza, o da confissão positiva... Esse evangelho que começou a ser pregado dizia que para ser exaltado precisa antes humilhar-se... E tem mais: esse evangelho dizia que para seguir a Cristo, cada um deveria negar-se a si mesmo, tomar a sua cruz, e então estaria apto para partir depois de Jesus, ir após ele e até se preciso for sofrer com Ele e por Ele. Sofrer?? Onde já se viu isso??
Esse evangelho esquisito que estava sendo pregado contrariava todos os princípios de marketing, publicidade, psicologia e sociologia até então explorados pela liderança da igreja evangélica. Pior! Contrariava frontalmente o evangelho da prosperidade. Antes de qualquer coisa esse evangelho dizia que nada desses princípios mercadológicos eram necessários. Para ser salvo, fazer a vontade de Deus, ser verdadeiramente abençoado era necessário uma exclusiva dependência do Espírito Santo.
Como se não bastasse, esse evangelho que começou a ser pregado, dizia de um mal terrível, contido na natureza de cada ser humano. Esse mal tem o nome de pecado. O pregador nem se importou se alguém ficaria ofendido com um termo tão pesado como este. Ele com dedo em riste e uma autoridade nunca vista antes, disse que se não houvesse arrependimento genuíno e conversão ao Cristo que morreu na cruz do calvário, se o velho homem pecaminoso não fosse crucificado não haveria salvação para ninguém, e, todos, sem exceção, estariam condenados ao fogo do inferno. (Será que este pregador havia se convertido?! Meu Deus...)
Não importava se tivessem sido curados dos piores flagelos, se tivessem recebido as mais portentosas bençãos financeiras, não importava até mesmo se o indivíduo tivesse sido o "canal", o "instrumento", o "ungido", aquele que havia orado para que as grandes e prodigiosas bênçãos chegassem até os fiéis. Sem arrependimento, dizia esse evangelho esquisito, não tinha negócio, não tinha como negociar, sem a cruz e o Cristo crucificado, o destino era a perdição eterna, o lago de fogo e enxofre.
Sabe o que foi mais estranho ainda do que essa pregação contrária ao evangelho da prosperidade até então em voga? O mais estranho é que as pessoas que abarrotavam o templo, em busca de cura, prosperidade, satisfação pessoal e tantas outras coisas, caíram em si. Como uma brasa que queimava e apertava seu peito, começaram a se contorcer, é como se sentissem no corpo o mal contido nas suas almas. Para esse povo não havia outra alternativa a não ser clamar pela misericórdia do Deus Altíssimo, pedir perdão pelos seus pecados e entregar-se total e verdadeiramente ao Cristo crucificado. Assim como a multidão, no dia de Pentecostes, com o peito esfaqueado e compungido, após o discurso inflamado do apóstolo Pedro, perguntavam a ele o que deveriam fazer. Essa multidão também batia no peito e clamava a Deus para que seus pecados fossem cancelados.
O até então "avivamento" produzido pela pregação do evangelho da prosperidade, não era mesmo avivamento. Bem que alguns já estavam tentanto alertar.
O que estava acontecendo agora era o avivamento. Era o verdadeiro e genuíno avivamento que havia chegado. O outro, o primeiro, "avivamento", não passava de palha que agora estava sendo literalmente consumida pelo fogo do Espírito Santo na promoção do autêntico avivamento inteiramente embasado nas Santas, Sagradas e Imutáveis Escrituras.
Depois disso, acordei. Acordei e com o coração mais sedento ainda pela verdadeira ação de Deus, clamei como clamou o profeta Habacuque no passado. Aviva, Senhor, a tua obra! Que esses pregadores se convertam ao verdadeiro evangelho e que essas massas aglomeradas sejam alcançadas pela verdadeira e poderosa Palavra de Deus.
Que, quem sabe, um dia, isso não seja apenas um sonho nem um devaneio, mas a descrição do agir de Deus. Que Deus tenha misericórdia de nós e nesse nosso abatimento que temos vivido nesses dias, como povo evangélico, que Ele nos alcance. Pra glória do Senhor!!!